Filme do Dia: Narradores de Javé (2003), Eliane Café

Narradores de Javé (Brasil/França, 2003). direção: Eliane Café. Rot. Original: Luiz Alberto de Abreu & Eliane Café. Fotografia: Hugo Kovensky. Música: DJ Dolores. Montagem: Daniel Rezende. Dir. de arte: Carla Café. Com: José Dumont, Gero Camilo, Rui Resende, Nélson Xavier, Luci Pereira, Nélson Dantas, Alessandro Azevedo, Maurício Tizumba, Matheus Nachtergaele.
Enquanto um forasteiro perde o barco que o levaria de volta, Zaqueu (Xavier), um dos moradores da região, começa a contar as narrativas sobre o pequeno povoado de Javé. A figura central de suas narrativas é Antônio Biá (Dumont), antigo funcionário dos Correios que provocou a ira dos moradores locais ao relatar fofocas de todos para manter seu emprego. Com a iminente ameaça da cidade de Javé ser submersa por uma represa, Biá é convidado para realizar o inventário da história local, como forma de tentar desmotivar o projeto movido por grandes interesses empresariais. A partir do momento que inicia a teia de narrativas, muitas discussões acabam sendo suscitadas e diversas interpretações surgem sobre a história do povoado. Porém, enquanto se encontram engalfinhados nas suas próprias narrativas, os moradores são surpreendidos  pela chegada à cidade dos engenheiros e igulmente por Biá, que foge, sem ter escrito uma linha do inventário. Para a tristeza de todos a cidade desaparece, mas quando Biá decide retornar, dispoto a escrever finalmente o inventário, logo a peleja entre os moradores locais retorna.
Tal e qual Eu, Tu, Eles, de Andrucha Waddington, o filme se ressente de explorar o que há de humorístico e folclórico em uma certa realidade de um pretenso Brasil Profundo, porém com um resultado final que não consegue soar convincente à altura de suas pretensões. Talvez o que acabe tornando-o mais interessante seja sua compreensão da memória como um elemento que prescinde da continuidade de sua base material, tornando-se até mesmo mais relevante com o desaparecimento dessa. Ainda aqui, no entanto, tal sugestão soa demasiado explícita, quase didática, para ser verdadeiramente interessante.  Sua acentuada cisão entre mundo tradicional e moderno, erro que Waddington consegue driblar, demonstra um coeficiente de inverosimilhança que somente é atenuado pelo próprio protagonista, que há todo momento circula entre os dois mundos, muitas vezes até simultaneamente. Bananeira Filmes/Gullane Filmes/Laterit Productions/Riofilmes. 100 minutos.


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