Filme do Dia: O Sonho Azul (1993), Tian Zhuangzhuang





O Sonho Azul (Lan feng zheng, China, 1993). Direção: Tian Zhuangzhuang. Rot. Original: Mao Xiao. Fotografia: Yong Hou. Música: Yoshihide Otomo. Montagem: Lengleng Qian. Dir. de arte: Liansheng Wang & Xiande Zhang. Cenografia: Zhu Baosheng & Geng Li. Figurinos: Juying Dong. Com: Wenyao Zhang, Tian Yi, Xiaoman Chen, Liping Lu, Quanxin Pu, Xuejian Li, Baochang Guo, Yanjin Liu
          A infância (Zhang, Yi) e a adolescência de Tiehou (Chen), desde seu nascimento em 1953, que foi adiado pela morte de Stálin, já que seus pais tiveram que adiar o casamento, passando pelo Grande Salto Para Frente, de 1958, e a Revolução Cultural de meados dos anos 60. Nesse ínterim Tietou presenciou o envio do pai Shaolong (Pu) para um campo de trabalhos forçados, onde morrerá, oficialmente vítima da queda de uma árvore. Sua mãe, Chen Shujuan (Lu)  voltará a se casar, porém o novo marido, que Tiehou tratará como tio, morrerá repentinamente, de causas naturais. O terceiro casamento de Shujuan será com um frio homem de meia-idade (Guo), que incitará a completa aversão de Tiehou, que não o verá mais que como um padrasto. Percebendo os conflitos entre seu novo marido e Tiehou, Shujuan envia o filho para passar alguns dias com sua mãe (Liu), ainda que também demonstre sua insatisfação com o esposo, que friamente a trata como uma serviçal. Com a efervescência da Revolução Cultural, Tiehou participa ativamente dos expurgos e humilhações coletivas, como o corte de cabelo imposto à diretora da escola. Logo, no entanto, a Revolução também atingirá o padrasto, que trabalha em uma biblioteca e  prefere se afastar da família, para não envolver Shujuan e Tiehou. Antes que o faça, no entanto, é arrastado da casa. Shujuan, revoltada com a violência do ato, e o sofrimento do marido enfermo, posiciona-se do seu lado e, para seu sofrimento de Tiehou e dela, é enviada para um campo de trabalhos forçados, enquanto Tiehou é espancado. Quando retorna à consciência observa a pipa azul, símbolo dos dias felizes de sua infância, engalfinhada em um poste.
Mais um retrato de um cineasta da chamada “Quinta geração” de realizadores chineses a explorar os anos díficeis da linha dura comunista na China, onde o principal destaque é a perversamente inextricável relação entre a história política do país e a vida íntima de seus membros. Como em Tempos de Viver, de Zhang Yimou, a vida pessoal dos personagens não consegue praticamente se destacar dos atos coletivos impostos pelo governo – de forma mais dramaticamente exposta pelo filme, mais ainda que a separação de Shujuan dos maridos, encontra-se a separação entre mãe e filho, e a perversa acusação de que a avó de Tiehou conseguira alimentos no mercado negro, levando tudo o que conseguira juntar a duras penas, para aprodrecer, como exemplo. Mais do que no filme de Yimou, no entanto, aqui se expressa uma contestação ao regime, na figura de personagens que não se escusam em criticar as atitudes do mesmo, ainda que em meio a uma família plenamente conformista, como é o caso do pai de Tiehou – não coincidentemente esse foi o último filme dirigido pelo cineasta desde então, embora já houvesse realizado seis outros anteriormente. Na exposição didática dos eventos já bastante conhecidos e com um ritmo por vezes cansativo, que detalha excessivamente as brincadeiras da infância do garoto, o filme é menos atraente para um público maior e menos concessivo que o filme de Yimou. Tiehou, logicamente, se apresenta como alter-ego do próprio cineasta, nascido apenas um ano antes. Beijing Film Studio/ Longwick Film. 130 minutos.

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