Filme do Dia: A Farsa Trágica (1942), Alessandro Blasetti



A Farsa Trágica (La Cena delle Beffe, Itália, 1942). Direção: Alessandro Blasetti. Rot. Adaptado: Alessandro Blasetti & Renato Castellani, baseado na peça de Sem Benelli. Fotografia: Mario Craveri. Música: Guiseppe Becce. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Virgilio Marchi & Ferdinand Ruffo. Cenografia: Principe Ruffo.  Figurinos: Gino Sensani. Com: Amedeo Nazzari, Osvaldo Valenti, Clara Calamai, Alfredo Varelli, Valentina Cortese, Memo Benassi, Elisa Cegani, Luisa Ferida.
Lorenzo de Médici (Benassi) convida para um jantar os irmãos Neri (Nazzari) e Gabriello (Varelli) com o intuito de fazerem as pazes com o rival Gianetto (Valenti). Para vingar-se de uma brincadeira anterior dos irmãos que o acabou levando a ser jogado no rio, Gianetto nessa noite estimula que Neri se vista como cavaleiro e vá procurar confusão em um bairro mal afamado de Florença. Após boatos devidamente plantados por um criado de Gianetto, Neri é preso como louco em um campanário, enquanto Gianetto passa uma noite com Ginevra (Calamai), que na escuridão pensa ser Neri. Neri consegue fugir e vai tomar satisfações com Ginevra e Gianetto, mas é expulso por homens de Médici. Acorrentado e sofrendo torturas nos porões do castelo, ele desperta a paixão da jovem Lisabetta (Cortese), que pretende que ele fique sob sua custódia. A noite, no entanto, ele a abandona e vai até a casa de Ginevra. Gianetto havia inventado para Gabriello, que Ginevra se encontrava interessada por ele e quando esse aparece no meio da noite para encontrá-la, é assassinado pelo próprio irmão, que acreditava matar Gianetto. Quando descobre a verdade, Neri enlouquece, mas Gianetto, atormentado pelo que provocou, tampouco se sente feliz.
Talvez pelo fato de se tratar da adaptação de uma ópera escrita em 1909 e não material original, o filme possua uma grande vantagem sobre o mais conhecido filme de Blasetti do período, A Coroa de Ferro (1941), que é o da maior coerência estilística e foco dramático, além de interpretações mais afinadas (sobretudo a de Valenti, a própria encarnação da perfidez que faz girar a engrenagem da história). Dito isso, o filme apresenta a mesma atmosfera de “estufa teatral” que a rígida marcação dos atores e a cenografia sobressalta, assim como preciosismos visuais, como a iluminação que destaca sombras nos rostos dos atores, como no breve momento de adoração de Lisabetta, vivida com um olhar tão intenso que se torna retrospectivamente familiar para quem não conhecia a então novata Cortese no esplendor de sua beleza, por seu Neri. À carga expressiva dos sentimentos que na ópera se dá através sobretudo do canto aqui acaba por vezes sendo prejudicada por sua tradução no mais banal dos gestos redundantes, como a representação da culpa sentida por Gianetto ao final com um mero cobrir o rosto com as mãos, na última imagem do filme. Valenti, assim como sua esposa Ferida, então grávida, que aqui surge num pequeno papel, seriam fuzilados ao final da guerra por sua associação íntima com o fascismo, sendo o drama vivenciado pelo casal apresentado em Sanguepazzo(2008), de Marco Tulio Giordana. Mesmo que a cena em que Calamai tem os seios descobertos subitamente na cama, previsível como muitas outras do filme, seja tida como a primeira cena de nudez do cinema italiano sonoro, a nudez estava longe de ser elemento estranho à produção italiana contemporânea, como demonstra a cena que apresenta um dos seios de Cegani em A Coroa de Ferro ou o vestiário masculino apresentado em I Tri Aquilotti, do mesmo ano, de Mario Mattoli. Curiosamente, esse filme seria evocado tanto em Cinema Paradiso (1988), de Guiseppe Tornatore quanto em Splendor (1989), de Ettore Scola. Societá Italiana Cines para ENIC. 87 minutos

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