The Film Handbook#39: Andrei Konchalovski



Andrei Konchalovski
Nascimento: 20/08/1937, Moscou, URSS
Carreira (como realizador): 1961-

Considerado no início dos anos 60 um promissor realizador soviético, Andrei Mikhalkov-Konchalovski parece ter perdido o rumo após o fim da era relativamente liberal de Kruschev; de modo semelhante, sua mudança para os Estados Unidos tampouco ajudou a sustentar o interesse que inicialmente havia despertado.

Nascido de uma família de artistas, escritores e músicos grandemente talentosos. Seu irmão é o ator-diretor Nikita Mikhalkov, amplamente conhecido como o melhor realizador de adaptações de Tchecov para o cinema, incluindo Peça Inacabada para Piano Mecânico e Olhos Negros. O próprio Konchalovski estudou cinema sob a tutela de Mikhail Romm, antes de passar a escrever roteiros para O Rolo Compressor e o Violinista e Andrei Rublev de Tarkovski. Em 1965 ele fez sua própria estreia no longa-metragem com O Primeiro Professor/Pervyy Uchitel: ambientado nas estepes asiáticas após a Revolução, lida com as tentativas de um jovem soldado de educar os camponeses locais em um novo modo de vida. Filmado liricamente e com pouco didatismo, o filme foi seguido por A História de Asia Klyachina/Istoriya Asi Klyachinoy, um romance rural parcialmente improvisado apresentando membros de um coletivo camponês. Como uma série de outros filmes da época foi banido e posteriormente o diretor realizou  adaptações da literatura sensíveis e não controvertidas de Turgueniev (Um Ninho de Nobres/Dvoryanskoe Gnezdo) e Tchecov (Tio Vânya). Sua originalidade, portanto, emudecida, moveu-se ao melodrama xaroposo (Romance de Enamorados/Romans o Vlyublyonnykh) depois de seguir os destinos de duas famílias siberianas após a Revolução em Seberiada/Sibiriada, sua escala épica que chamou a atenção do mundo ocidental para o realizador.

Mudando-se para os Estados Unidos a convite do ator Jon Voight, o diretor realizou Os Amantes de Maria/Maria's Lovers>1, um romance suavemente elegíaco no qual um soldado da Segunda Guerra de descendência eslovena retorna à casa, os campos agrícolas da Pensilvânia e um amor da infância: porém a realidade falha em se ajustar aos seus sonhos e o casamento não é consumado. Mesmo não sendo notável em sua análise dos traumas aos quais enfrenta os veteranos em retorno à casa, o filme apresenta uma imaculada recriação do período e  exuberantes paisagens fotográficas; com sua comunidade de imigrantes, os pastos e colinas são bastante reminiscentes da obra inicial de Konchalovski. De forma similar, Expresso para o Inferno>Runaway Train>2, extraído de uma ideia de Kurosawa poderia facilmente ter sido filmado tanto na Sibéria como no Alasca, embora os símbolos que colorem a história agitada da fuga de um condenado de uma prisão de alta segurança soa estranhamente russa: no último plano, o violento anti-heroi, redimido quando se auto-sacrifica para dissuadir um jovem discípulo da vida criminal, precipita-se no trem desgovernado rumo à morte certa, seus braços desafiadoramente abertos, tal como Cristo, encontrar seu criador.

Se Expresso para o Inferno foi um filme de ação superior, ganhando distinção pelo imaginativo senso visual de Konchalovsky, Sede de Amar/Duet for One, foi uma desastrosa "adaptação"  de um sucesso teatral no qual um violinista ajusta as contas com sua morte iminente por esclerose múltipla. Insípido e desprovido de qualquer verdadeiro sentido de dor, seus sentimentos novelescos são completamente destituídos de brilho ou originalidade. Gente Diferente/Shy People não foi melhor com seu simplista choque cultural entre uma rica e pretensiosa jornalista nova-iorquina e suas primas supersticiosas e nada sofisticadas que vivem em um barco na Louisianna, sucumbindo rapidamente a clichês banais envolvendo tentativas de estupro, barcos virados, saqueadores e fantasmas. Novamente, graças a brilhante fotografia de Chris Menges, o filme é visualmente soberbo, ainda que suas pretensões sociológicas, psicológicas e filosóficas sejam risivelmente melodramáticas.

Talvez, ao passar a trabalhar para a Cannon dos produtores Golam e Goblus, Konchalovski  tenha escolhido um caminho equivocado: frequentemente, a ideia da Cannon de "artístico" se encontra irremediavelmente vinculada a noções rasteiras de comercialismo. Expresso para o Inferno provou a capacidade do diretor de realizar algo  agradável, mesmo quando derivado dos gêneros; na maior parte das vezes, entretanto, ele parece ter sido sobrecarregado pela infrutífera noção mediana do conceito de "entretenimento de qualidade".

Genealogia
Enquanto as primeiras obras de Konchalovski possam ser vistas como parte de uma série de estreias criativas soviéticas (incluindo filmes de Otar Iosseliani, Tarkovski, Shepitko e Paradjanov), ele próprio tem expressado sua admiração por Woody Allen e Scorsese.

Destaque
1. Os Amantes de Maria, EUA, 1984 c/Nastassja Kinski, John Savage, Robert Mitchum

2. Expresso para o Inferno, EUA, 1985 c/John Voight, Eric Roberts, Rebecca De Mornay

Texto: Andrew, Geoff, The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 150-1.

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