Filme do Dia: Cara a Cara (1967), Júlio Bressane




Cara a Cara (Brasil, 1968). Direção e Rot. Original: Júlio Bressane. Fotografia: Affonso Beato. Música: Sidney Waisman. Montagem: Eduardo Escorel. Cenografia: Luiz Carlos Ripper. Com: Antero de Oliveira, Helena Ignez, Paulo Gracindo, Paulo Padilha, Maria Lúcia Dahl, Wanda Lacerda, Ítalo Rossi, Ênio Gonçalves, Rosita Tomás Lopes, Maria Bethânia.
              Raul (Oliveira) é um jovem funcionário público que não possui maiores esperanças na vida, tendo uma mãe em estado terminal e se fixando obsessivamente na jovem rica Luciana (Ignez), que o ignora. Luciana é filha do corrupto chefe político Hugo Castro (Gracindo). No dia em que Castro recebe homenagem importante, Raul mata um colega de repartição, rapta e mata Luciana e assassina a própria mãe.
Em seu primeiro longa-metragem, Bressane já apresenta muitas das características que iriam ser desenvolvidas em seus filmes posteriores desse primeiro momento de sua carreira. Seu interesse por crimes passionais provocados por elementos da classe média completamente sem expectativas da vida e referências ao momento político repressivo voltariam a se destacar no mais esteticamente elaborado Matou a Família e Foi ao Cinema. De qualquer modo, aqui já se percebe uma preocupação menor com a narrativa em si própria que com a construção de uma poética de imagens que nunca perde de vista as referências sejam musicais (temas de Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e Bach) ou cinematográficas (uma seqüência extremamente lúdica e bem realizada faz referência ao ato de cortejar no início do século, ao mesmo tempo mimetizando as produções cinematográficas do período). Tampouco Bressane se encontra interessado em uma narrativa linear ou angulações didáticas. Com relação às últimas basta evocar seus belos primeiros planos de Dahl e Ignez, sem qualquer motivação diegética, observando diretamente a câmera (recurso novamente trabalhado em Matou a Família) e o diálogo entre Ignez e seu namorado em um parque, onde mal se percebem os dois atores, ambos no limite da visibilidade e em um plano demasiado aberto. A seqüência final já antecipa alguns motivos estéticos de Matou a Família, construindo uma poética visual a partir de elementos comuns à imprensa sensacionalista e fazendo uso do mesmo Antero de Oliveira. Em certo momento, no entanto, o filme descamba para uma exaltação de Ignez por seu amado perigosamente próxima do piegas. Foi visivelmente influenciado por Terra em Transe, como pode-se perceber na figura do líder político corrupto, representado pelo mesmo Gracindo do filme de Glauber Rocha Belair Filmes. 80 minutos.

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