Filme do Dia: Agora ou Nunca (2002), Mike Leigh


Agora ou Nunca Poster


Agora ou Nunca (All or Nothing, Reino Unido/França, 2002). Direção e Rot. Original: Mike Leigh. Fotografia: Dick Pope. Música: Andrew Dickson. Montagem: Lesley Walker. Dir. de arte: Eve Stewart & Tom Read. Figurinos: Jacqueline Durran. Com: Timothy Spall, Lesley Manville, Alison Garland, James Corden, Ruth Sheen, Marion Bailey, Paul Jesson, Sam Kelly, Helen Coker, Gary McDonald.
       Uma família proletária e seu cotidiano repleto de desesperança. Phil (Spall) é motorista de táxi que não consegue acordar cedo e vive recebendo calotes dos passageiros. Sua mulher Penny (Manville), ressente-se da situação medíocre em que vive a família e vive às turras com o filho Rory (Corden), que não trabalha ou estuda. Rachel (Garland), a filha, desempenha com certo estoicismo a dura rotina de ser enfermeira de uma instituição para idosos inválidos. A situação tampouco é animadora no círculo de relações do casal. A vizinha Maureen (Sheen) é mãe solteira da jovem Donna (Coker), que se encontra grávida e abandonada pelo bruto namorado, Neville (McDonald). Carol (Bailey), por sua vez, é tão alcoólatra e decadente quanto o marido, o também motorista de táxi, Ron (Jesson). A situação familiar se verá subitamente questionada com um ataque cardíaco sofrido por Rory, que leva todos a repensarem suas relações, sobretudo o casal. A gravidez de Maureen, por sua vez, propicia uma aproximação com a mãe.
         Cineasta mais cultuado a retratar os dramas contemporâneos do proletariado inglês ao lado de Ken Loach, Leigh se diferencia daquele por banir de seu universo qualquer referência maior à política. Se tal recusa pode ser uma benção em certos casos, como no seu excelente Nu, um retrato de colorações cassavetianas dos dramas existenciais de personagens desorientados e se Loach torna-se vítima de um frágil esquematismo a serviço de seus dramas panfletários em suas produções menos inspiradas, algumas vezes o oposto ocorre. Ou seja, Loach muitas vezes consegue casar com maestria universo pessoal e drama político mais amplo, caso de Pão e Rosas, enquanto Leigh, em filmes menos inspirados como esse, não faz mais que reproduzir um modelo desgastado de drama familiar em que a panaceia para todos os males é o ressurgimento do amor, seja no caso da família protagonista ou da relação entre mãe e filha e deixando de ressaltar que talvez um dos maiores motivos para o desgaste de tais relações afetivas seja a própria estrutura social perversa em que tais personagens se encontram inseridos. Seu retrato sombrio e quase despido de humor de seus personagens e da medíocre vida que levam proporciona igualmente uma perigosa tendência ao voyeurismo que, em seus piores momentos, provoca um humor involuntário ou ambivalente ao descrever a decadência de Carol agarrando um homem em um bar ou a estupefação paralisante de Phil, que gradualmente introjetou todos os valores negativos de que é constantemente acusado pela mulher. Les Films Alain Sarde/Studio Canal/Thin Man Films para MGM/UA. 128 minutos.

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