The Film Handbook#79: Robert Rossen



Robert Rossen
Nascimento: 16/03/1908, Nova York, EUA
Morte: 18/02/1966, Hollywood, Los Angeles, EUA
Carreira (como diretor): 1947-64

Adversamente afetado pela lista negra da Comissão de Atividade Anti-Americanas, a carreira de diretor de Robert Rossen foi inevitavelmente irregular. Apesar disso, um interesse em realismo social e psicológico e um ouvido para escrita de diálogos resultou em um punhado de memoráveis, apesar de problemáticos, filmes.

Tendo trabalhado por alguns anos no teatro, Rossen adentrou o universo do cinema como roteirista para os Warner; a maior parte dos filmes que escreveu foram nos gêneros criminais e de ação, muitos dos quais - Mulher Marcada/Marked Woman, Esquecer Nunca/They Won't Forget de Mervyn LeRoy, Heróis Esquecidos/The Roaring Twenties, de Walsh, O Lobo do Mar/The Sea Wolf, de Curtiz, Quando a Noite Cai/Out of the Fog, de Anatole Litvak, Um Passeio ao Sol/A Walk in the Sun, de Lewis Milestone - caracterizados por uma consciência social liberal inspirada, talvez, por ele ser membro do Partido Comunista. Por fim, em 1947, ele efetuaria sua estreia como diretor com Dama, Valete e Rei/Johnny O'Clock, taciturno filme de ação noir de enredo impressionantemente complexo sobre um jogador equivocadamente suspeito de assassinato. Ainda melhor, Corpo e Alma/Body and Soul (escrito por Polonsky e estrelado por John Garfield) fazia uso de uma, de outra forma, rotineira história de boxe para apresentar um retrato corrosivo de ingenuidade corrompida pelo sucesso e pelo dólar, e tendo como clímax uma perseguição final filmada de forma virtuosa. Porém foi A Grande Ilusão/All The King's Men>1 que estabeleceu Rossen como um talento a ser observado. Sobre um demagogo sulista no estilo de Huey Long cuja integridade idealista diminui de acordo com o poder que comanda, o filme foi um exemplo imaculado de realização de realismo hollywoodiano de baixo orçamento; fazendo uso criativo de locações e revelando o superior talento de Rossen para lidar com atores relativamente desconhecidos como Broderick Crawford e Mercedes McCambridge.

Infelizmente houve os chamados da Comissão de Atividades Anti-Americanas, e após o filme de touradas realizado no México, Touros Bravos/The Brave Bulls, Rossen se recusou a cooperar em um interrogatório de 1951. Após dois anos na lista negra, concordou em citar nomes, mas sua carreira sofreria fortemente: realizados na Europa, Mambo, Alexandre Magno/Alexander The Great e Ilha nos Trópicos/Island in the Sun foram materiais indignos de seus talentos específicos. Heróis de Barro/They Came to Cordura, uma análise de honra e covardia no exército no México de 1916 foi bastante intrigante, porém foi  Desafio à Corrupção/The Hustler>2 que, em última instância, trouxe o diretor novamente ao seu melhor. Interpretado soberbamente, é um conto cinicamente roteirizado de rivalidade, auto-aversão e traição, ambientado no universo grandemente ambicioso e vaidoso dos craques em salões de bilhar. Ainda melhor, no entanto, e de longe mais ambicioso, foi Lilith>3,  um lírico e sensual romance entre um enfermeiro e uma bela paciente em um hospital psiquiátrico. Uma delicada e discreta análise sobre a obsessão (o enfermeiro, por fim, vem a pedir ele próprio ajuda psiquiátrica), o filme é ao mesmo tempo uma atualização oblíqua de um mito e uma tentativa sensível de observar o fenômeno da loucura sem recorrer à histeria; crucial para seu sucesso são as imagens brilhantemente monocromáticas de Eugene Schufftan.

Aparentemente tendo embarcado, com esses dois últimos filmes, em direção a uma segunda fase, mais madura, de sua carreira, Rossen morreu antes que realizasse outro filme. Se os mais ágeis e anteriores filmes de gênero hoje aparentam soarem algo datados em sua sincera moralização sociológica, Lilith, particularmente, sobrevive como um vislumbre poético do que pode ter sido uma recém-descoberta simpatia pela vida dos marginais.

Cronologia
Os roteiros de Rossen e sua obra inicial sugerem comparações com Polonsky, Losey, Huston e Richard Brooks; Dama, Valete e Rei foi admirado por Melville, Lilith por vários dos jovens realizadores franceses.

Leituras Futuras
The Films of Robert Rossen (Nova York, 1969), de Alan Casty.

Destaques
1. A Grande Ilusão, EUA, 1949 c/Broderick Crawford, Mercedes McCambridge, John Ireland, Joanne Dru

2. Desafio à Corrupção, EUA, 1961 c/Paul Newman, George C.Scott, Piper Laurie, Jackie Gleason

3. Lilith, EUA, 1964 c/ Warren Beatty, Jean Seberg, Peter Fonda, Kim Hunter

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres; Longman, 1989, pp. 250-1.

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