The Film Handbook#82: Roman Polanski

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Roman Polanski
Nascimento: 18/08/1933, Paris, França
Carreira (como diretor): 1955 -

É discutível que a violência, crueldade e senso de deslocamento prevalecente nos filmes de Roman Polanski seja diretamente derivado dos dramáticos, e mesmo horrendos, pormenores de sua vida. De todo modo, o seu talento é tal que sua obra consegue transcender meras considerações autobiográficas. firmando-se por si própria como uma visão pessimista, mas atraente, da existência contemporânea.

Os pais de Polanski retornaram à Polônia dois anos antes da Segunda Guerra eclodir; ambos foram posteriormente levados a campos de concentração (sua mãe morreu em Auschwitz), enquanto a estratégia de sobrevivência do rapaz no gueto incluía frequentes idas ao cinema. Nos anos 50 ele passou a atuar, aparecendo em Geração/Mundek de Wajda, dentre outros filmes, antes de ingressar na Escola de Cinema de Lodz. Suas primeiras obras - curtas tais como Dois Homens e um Guarda-Roupa/Dwaj Ludzie z Szafa, Le Grois et le Magre e Os Mamíferos/Ssaki - revelam um gosto por um humor negro e absurdo assim como um fascínio pelas relações bizarras que envolvem domínio e submissão. Em sua estreia em longa-metragem, A Faca na Água/Nóz w Wodzie>1, estranhos jogos de poder ganham novamente destaque, com ridículas rivalidades machistas emergindo quando um jovem pega carona em um barco com um crítico de esportes e sua mulher. Mesmo que o enredo seja escasso, o filme se distingue pelos visuais precisos de Polanski, que aponta as mudanças de lealdade dos três personagens através de combinações sutis; impressionantemente, apesar de quase todo o filme  ser situado em um pequeno iate, o efeito é sempre cinematográfico mais que teatral. De fato, as locações são de importância primordial nas melhores obras de Polanski: realizados na Inglaterra, seu dois próximos longas, Repulsa ao Sexo/Repulsion>2 e Armadilha do Destino/Cul-de-Sac se dão, respectivamente, em grande parte em uma quitinete londrina e num castelo em ruínas em Holy Island. O primeiro, sobre um colapso mental homicida de uma garota belga com problemas sexuais deixada sozinha quando sua irmã parte de férias, é notável pelo modo como Polanski faz uso de objetos e texturas (comida apodrecida, rachaduras nas paredes) para transmitir o estado da mente em desintegração de sua heroína; o segundo, sobre um marginal que invade a propriedade de um casal rico e altamente excêntrico, impressiona com sua narrativa sombriamente cômica de jogos de poder e incapacidade de comunicação.

Após um elegante porém frequentemente previsível horror-sátira A Dança dos Vampiros/Dance of the Vampires, Polanski foi a Hollywood para realizar O Bebê de Rosemary/Rosemary's Baby>3, um arrepiante thriller sobrenatural (a partir do romance de Ira Levin) na qual uma futura mãe teme se encontrar grávida de Satã. Como antes, a locação (um labiríntico velho apartamento de Nova York), temor psicológico e um protagonista isolado de um mundo traiçoeiro são centrais, ainda que os até então visuais quase abstratos sejam aqui substituídos por uma natureza mais clássica. Precisão, no entanto ainda era sua marca registrada, e seu direcionamento para realizações de maior apelo comercial  não o desvincularam de um maior comprometimento artístico. Portanto, mesmo quando realizou uma versão de Macbeth (cuja violência explícita foi considerada por muitos como inspirada pelo apavorante assassinato da mulher do diretor, Sharon Tate, pela "família" Manson) foi tanto um filme de Polanski quanto uma inteligente e fiel adaptação de Shakespeare.

Realizado na Itália, Que? foi uma carregada e desapontadora comédia sexual, oferecendo somente uma lúdica narrativa ilógica; bem melhor foi Chinatown>4, no qual o diretor revelou, sem muito esforço, que poderia unir tanto um complexo e labiríntico  roteiro de um thriller (ambientado na Los Angeles dos anos 30 e relativo a assassinato, incesto e corrupção política) com uma detalhada e crível recriação de um mundo perdido: novamente, uma compreensão acurada da capacidade humana para a maldade combinada com humor negro provocaram efeito hipnótico. O Inquilino/The Tenant, no qual o próprio diretor vivia um estrangeiro em Paris, cuja sanidade começa a desmoronar quando aluga um apartamento previamente habitado por um suicida, pareceu menos comedido que Repulsa ao Sexo. No entanto, Tess>5 - realizado na França, para onde o diretor havia fugido após ter sido condenado nos Estados Unidos de ter feito sexo com uma garota de 13 anos - foi uma adaptação surpreendentemente efetiva do romance clássico de Hardy, beneficiando-se das fortes interpretações e de um admirável uso das paisagens para espelhar o humor e a classe condenadas de sua heroína.

Por ora morando na França, Polanski alargou seus talentos para incluir obras ocasionais para o teatro; infelizmente, seu filme seguinte, sátira aos filmes de espadachim, PIratas/Pirates foi lamentavelmente não bem sucedido. Busca Frenética/Frantic, no entanto, apresentou um parcial retorno à forma, com sua trama de ação  permitindo uma homenagem a Hitchcock,e mais uma vez, repleta de momentos de sombria engenhosidade enquanto segue um americano ao redor de Paris, confundido, isolado e ameaçado pelo desaparecimento súbito e misterioso de sua mulher.

Embora Polanski pareça incapaz de realizar uma comédia em sentido pleno, sua melhor obra trata os eventos e relacionamentos de uma natureza frequentemente digna de pesadelo com sofisticada ironia e um atraente senso de absurdo. Até mesmo quando adapta seu estilo ao material que tem em mãos, sua câmera é consistente em enquadrar pessoas e lugares com precisão econômica.


Cronologia
Ainda que as primeiras experiências de Polanski no cinema tenha sido com Wajda e Andrzej Munk, seu tom é mais próximo de Skolimowski, com quem trabalhou no roteiro de Faca na Água. Os dramaturgos Beckett e Ionesco podem ter observados como influências; sua versatilidade e visão idiossincrática  são tais que sua própria influência nos diretores ocidentais pode ser considerada mínima.

Destaques
1. Faca na Água, Polônia, 1962 c/Leon Niemczyk, Jolanta Umecka, Zygmunt Malanowicz

2. Repulsa ao Sexo, Reino Unido, 1965 c/Catherine Deneauve, Yvonne Furneaux, John Fraser

3. O Bebê de Rosemary, EUA, 1968 c/Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon

4. Chinatown, EUA, 1974, c/Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston

5. Tess, França, 1979 c/Nastassia Kinski, Peter Firth, Leigh Lawson

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 221-3.

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