Filme do Dia: Argila (1940), Humberto Mauro

Argila (Brasil, 1940). Direção e Rot. Original: Humberto Mauro, baseado em argumento próprio. Fotografia: Manoel P. Ribeiro & Humberto Mauro. Música: Radamés Gnattali. Montagem: Watson Macedo & Hipólito Colombo. Com: Carmem Santos, Celso Guimarães, Floriano Faissal, Lídia Mattos, Saint-Clair Lopes, Bandeira Duarte, Mauro de Oliveira, J. Silveira, Pérola Negra.
         Gilberto (Guimarães), competente e humilde artesão de cerâmica, torna-se objeto da paixão da jovem viúva rica Luciana (Santos). A noiva de Gilberto, Marina (Mattos) sente-se enciumada, assim como seu irmão Pedrinho. Como prova de sua gratidão por Luciana, que cuidara de seu restabelecimento após ter levado uma queda quando trabalhava em sua residência, Gilberto lhe dá um raro maracá índio. Luciana compra a fábrica que produzia peças que eram vendidas pela região e decide transformá-la em realizadora de objetos artísticos. Numa noite de festa o maracá é furtado por Pedrinho. Quando sabe da história o pai do menino conta tudo para Luciana, relatando-lhe igualmente que os noivos vivem uma situação delicada desde que os boatos sobre o interesse de Gilberto por Luciana se espalharam. Quando Gilberto lhe devolve o maracá, Luciana decide fazer de conta que tudo não passara de um capricho de madame e que ela é, antes de tudo, a patroa de Gilberto.
      Produzido pela própria Carmem Santos o filme, em muitos aspectos, reflete a cultura nacionalista /paternalista que vigorava à época do Estado Novo: a ode a cerâmica marajoara, contraposta ao esnobismo de uma elite que se ampara em critérios estéticos gregos; a música de Villa-Lobos; as referências ao Museu Nacional e uma palestra de Roquette Pinto sobre as qualidades dos produtos indígenas; a dança de uma índia numa festa promovida por Luciana; a festa de São João promovida por Gilberto e amigos  e o paternalismo com relação aos empregados. Por outro lado, como acentuou Carlos Roberto de Souza, o filme expõe uma série de oposições como a de uma visão idílica dos operários contraposta a um poder da classe rica que se manifesta, inclusive, a nível sexual, na figura de Luciana, na relação entre campo e cidade, produção artística contraposta a produção em série, etc. Algumas seqüências soam francamente inconvincentes como a longa dança de uma estilizada indígena ou a altruísta atitude de Luciana que, de pronto, deixa de lado sua dor, para permitir a continuidade da relação saudável entre seus operários. Mesmo que um certo tom pueril evoque a maior força plástica dos filmes que realizara na década anterior, como a cena da festa de São João, o resultado final é bem menos expressivo – com exceção de seqüências isoladas como a do travelling que apresenta um plano subjetivo de Gilberto sendo levado às pressas à residência de Luciana e deixando na estrada a noiva e Pedrinho. Quanto ao nível de autonomia que ganha a figura feminina, provavelmente deve-se menos a Mauro – que possuía heroínas tipicamente griffithneanas em seus filmes – que a influência da produtora. Brasil Vita Filmes. 103 minutos.

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