The Film Handbook #24: Claude Chabrol



Claude Chabrol
Nascimento: 24/06/1930, Paris, França
Morte: 12/09/2010, Paris, França
Carreira (como realizador): 1958-2010

Embora Claude Chabrol seja certamente um dos mais importantes realizadores  que emergiram da Nouvelle Vague francesa, a consistência de seus temas e de um estilo seguro e expressivo são frequentemente prejudicados pelo pobre material escolhido, resultando numa carreira tão irregular quanto profícua.

Um cinéfilo quando adolescente, nos anos 50 Chabrol trabalhou - juntamente com Truffaut, Godard e Rivette - como crítico de cinema para o Cahiers du Cinéma. Após escrever, com Eric Rohmer, um livro sobre Hitchcock, e produzir uma série de curtas, ele voltou-se à direção, em 1958, com Nas Garras do Vício/Le Beau Serge, considerado hoje amplamente como o primeiro longa-metragem da Nouvelle Vague. Um sombrio drama provinciano de auto-sacrifício e redenção, sua algo esquemática estrutura narrativa e caracterizações se tornaram mais efetivas em Os Primos/Les Cousins>1:  Charles, um desajeitado estudante do campo visita o mais inteligente, sedutor e decadente Paul em Paris e, consumido pela inveja por uma garota, contempla a ideia de matar seu primo; porém é Paul quem acidentalmente atira em Charles, com Chabrol implicando sutilmente a cumplicidade da vítima.

Essa troca de culpa - motivo católico que ele e Rohmer haviam identificado nos filmes de Hitchcock - seria recorrente ao longo da carreira de Chabrol. Entre Amigas/Les Bonnes Femmes>2, era a respeito dos banais sonhos românticos de quatro balconistas parisienses, a mais tímida delas sendo levada por um ciclista que a estrangula. Do mesmo modo, o diretor frequentemente analisa os relacionamentos destruídos por intrusos, com as tensões subsequentes atingindo um clímax violento: L'Oeil du Malin>3 descrevia um jornalista tão enciumado de um casal feliz que, quando fica sabendo da infidelidade da mulher, maldosamente conta ao marido, que então a mata. Chabrol observa tipicamente o intruso como culpado mais que o assassino ou a mulher infiel.

As análises frias e cínicas de Chabrol dos códigos e da psicologia contemporânea tem se destacado por um uso expressivo dos cenários, movimentos e relacionamentos geometricamente concebidos. Seu sucesso inicial, no entanto, foi seguido por uma série de fracassos, e por diversos anos ele parecia satisfeito com obrigações comerciais, sobretudo sobre a forma de enganosos filmes de suspense-espionagem. Não seria antes de 1968 que ele retornaria à forma com uma sequencia da variações maduras e formais do tema da família burguesa e sua capacidade para o comportamento criminoso. Em As Corças/Les Biches, a "família" consiste de duas mulheres bissexuais cujo amor é fatalmente destruído pelo engano e ciúme provocado por um amante homem; em Mulher Infiel/La Femme Infidèle>4, um dócil marido que assassina o amante de sua esposa ironicamente conquista o seu amor quando ela perversamente tenta protegê-lo das investigações policiais; e em A Besta Deve Morrer/Que la Bête Meure/, o pai de uma vítima desassistida planeja um repentino vingança contra o motorista que o cometeu, mas vacila quando encontra o assassino de seu filho - que, por sua vez, talvez tenha matado seu próprio pai. A natureza obsessiva dos estudos de Chabrol (através de suas reações aos assassinatos) de uma burguesia completamente consumida pelo desejo de preservar sua respeitabilidade e status quo foi apresentado pelo repetitivo uso de atores (Michel Bouquet, Jean Yanne e sua própria mulher Stéphane Audran) e dos nomes simbólicos de seus personagens: Héléne (indiferente), Paul (hedonista, ameaçador) e Charles (reprimido, sério).

Que o intruso provocador do caos seja um símbolo do Id ficou claro na obra-prima de Chabrol, O Açougueiro/Le Boucher>5, aonde uma extensa família de um calmo vilarejo de Dordogne é ameaçado por um assassino de crianças. Mesmo que inclua diversas cenas inventivas e dramáticas (um corpo encontrado que o sangue pinga como ketchupn no sanduíche do piquenique de uma estudante), a força do filme é proveniente de sua simpatia pelo assassino, um veterano da Guerra Indo-Chinesa, treinado para matar, enquanto planos de pinturas em cavernas pré-históricas evocam os instintos brutais e primitivos.

A crescente confiança de Chabrol - 10 Dias Fantásticos/La Década Prodigieuse foi um estranho e semi-cômico filme de suspense edipiano combinado com alegoria teológica, a história dos terroristas sitiados por desajeitadas autoridades de Nada numa tentativa de lidar com a moderna política - o abandonou por fim em meados dos anos 70, quando voltou-se crescentemente para fracas co-produções internacionais (Laços de Sangue/Les Lien de Sang, Assassinato por Amor/Les Innocents aux Mains Sales) e tele-suspenses. Mais satisfatório, em anos recentes,  Violette Nozière>6, baseado na história verídica de uma jovem levada pelas decepções com a vida familiar a assassinar seus pais, foi elegante, melancólico e belamente interpretado; tanto Poulet au Vinaigre>7 como sua sequencia, Inspecteur Lavardin foram prazerosamente grotescos suspenses detetivescos, o primeiro uma engenhosa história de corrupção provinciana, o segundo uma análise bizarra das tentativas de um policial de brincar de Deus em um paraíso perdido povoado por anjos decaídos; e Um Assunto de Mulheres/Une Affair des Femmes um atipicamente tocante e generoso retrato da última mulher francesa a ser guilhotinada (por realizar abortos para as mulheres dos soldados, um negócio que é o anátema ao puritanismo hipócrita do governo de Vichy).

Mesmo inteligentes ou persuasivas, a análise da moralidade burguesa de Chabrol é frequentemente enfraquecida por sua insistência em observar seus personagens de um patamar como que divino. Um consumado artesão, seu interesse nas emoções humanas frequentemente parece motivado intelectualmente,o que explicar a natureza errática e formal de sua obra.

Cronologia
A visão fatalista e azeda da criminalidade burguesa por Chabrol possui seus predecessores em Lang, Hitchcock e Buñuel, embora seu interesse em intrusos que provocam a desordem possui seus paralelos com Losey. A influência de seu frio estilo estético sobre o filme de suspense contemporâneo francês é imensa.

Leituras Futuras
Claude Chabrol (Londres, 1970), de Robin Wood; The New Wave (Nova York, 1976), de James Monaco.

Destaques
1. Os Primos, França, 1958 c/Gérard Blain, Jean-Claude Brialy, Juliette Mayniel

2. Entre Amigas, França, 1960 c/Bernadette Lafont, Stéphane Audran, Mario David

3. L'Oiel du Malin, França, 1962 C/Stéphane Audran, Jacques Charrier

4. Mulher Infiel, França, 1968 c/Michel Bouquet, Stéphane Audran, Maurice Ronet

5. O Açougueiro, França, 1969 c/Stéphane Audran, Jean Yanne

6. Violette Nozière, França, 1978 c/Isabelle Huppert, Stéphane Audran, Jean Carmet

7. Poulet au Vinaigre, França, 1984 c/Jean Poiret, Stéphane Audran, Michel Bouquet

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