Filme do Dia: Aquele Que Sabe Viver (1962), Dino Risi


Aquele Que Sabe Viver Poster

Aquele Que Sabe Viver (Il Sorpasso, Itália, 1962). Direção: Dino Risi. Rot. Original: Dino Risi, Ettore Scola & Ruggero Maccari. Fotografia: Alfio Contini. Música: Riz Ortolani. Montagem: Maurizio Lucidi. Dir. de arte e Figurinos: Ugo Pericoli. Com: Vittorio Gassman, Jean-Louis Trintgnant, Catherine Spaak, Claudio Gora, Luciana Angiolillo, Linda Sini, Nando Angelini, Luigi Zerbinati.
O inquieto e extrovertido Bruno (Gassman) envolve o tímido estudante de direito administrativo Roberto (Trintgnant) numa inesperada aventura, após lhe pedir para telefonar. Inquieto com uma Roma deserta, Bruno leva o novo amigo para um passeio pela Toscana. Eles reencontram membros da família de ambos. Bruno visita uma tia em um velha vila tradicional. Roberto sua esposa (Angiolillo) e filha, Lily (Spaak), que se encontra enamorada de um homem que tem idade de ser seu avô, Bibi (Gora). Quando voltam para Roma, o modo irresponsável com que Bruno dirige provoca um acidente no qual  Roberto morre.
Risi, com esse filme, parece querer  demonstrar a possibilidade de se fazer uso de um estilo moderno – o formato road movie cai bem nesse propósito, pois torna tudo fugidio e sem um senso de desenvolvimento mais completo como no drama convencional – porém sem se eximir de um contato com um público mais amplo, através de apelos como o da comicidade e do erotismo. Com relação aos últimos, seu formato moderno, com direito a inspiradas tiradas visuais, como a do homem e toda a mobília do que parece ser seu quarto a balançar, o que no plano seguinte demonstrará ser um caminhão de mudanças, não conseguem exatamente ir além de si próprias. Já o modo como as mulheres são tratadas, com explícito voyeurismo e misoginia, inclusive visualmente, mais uma vez reforçam a perspectiva de Bruno, e não  são muito distantes do universo da comédia erótica italiana, presentes igualmente no modo paternalista ou até mesmo ofensivo com que Bruno se relaciona com os familiares de Roberto: em poucos minutos ele devassa o universo da tia solteirona, da tia infiel que tivera um filho com outro homem e do criado homossexual.  Com relação ainda ao seu estilo moderno, sua contraposição parece ser ao cinema de Antonioni (ao qual o personagem de Gassman, vivendo aqui o que se tornaria a personagem emblemática de sua carreira, o do típico fanfarrão italiano, critica como chato ao comentar O Eclipse, filme do realizador lançado no mesmo ano; aliás essa contraposição parece servir bem, quase programaticamente ao que o filme de Risi se pretende, pois ele fala justamente que a música de Domenico Modugno fala de alienação, o mesmo tema de Antonioni, sem ser chata). Poder-se-ia até imaginar se tratar de uma homenagem bem humorada, porém o próprio ritmo do filme parece bem mais próximo da energia desfocada e imatura do personagem de Gassman do que do reflexivo e ensimesmado Trintgnant, esse sim mais próximo dos personagens de Antonioni ou de seus contemporâneos da Nouvelle Vague. A sua morte previsível ao final, inclusive, vem selar a sua inadaptação à dinâmica de um mundo sempre em transformação. Não sem antes afirmar, como de praxe, diante de Bruno, que esse lhe proporcionara os melhores dias de sua vida. Na sua banda sonora, algumas canções do afluente cancioneiro popular italiana de então  tais como Quando, Quando, Quando e Guarda como Dondolo, assim como um punhado de interpretações de Peppino De Capri. Destaque para a foto de Bardot no carro de Bruno. Incei Film/Fair Film/Sancro Film para Fair Film. 105 minutos.


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