The Film Handbook#85: Carol Reed




Carol Reed
Nascimento: 30/12/1906, Londres, Inglaterra
Morte: 25/04/1976, Londres, Inglaterra
Carreira (como realizador): 1933-1972

Uma vez considerado um dos maiores diretores de cinema britânicos, Sir Carol Reed foi, na verdade, um habilidoso artesão que teve seu auge em um período breve ao final dos anos 1940 com três sucessivas adaptações da literatura. Mesmo em sua melhor obra, no entanto, sua inclinação para enquadramentos inusitados e iluminação expressionista soam estudados e irrelevantes.

Após trabalhar como ator e diretor teatral (incluindo uns poucos anos com o escritor de mistérios Edgar Wallace) Reed adentrou o universo do cinema como escritor de diálogos. Em 1933 efetuaria sua estreia como diretor com Midshipman Easy, iniciando uma série de modestos, ainda que tecnicamente consistentes, filmes que estabeleceram fortemente sua reputação como um competente diretor de atores. Fim de Semana Atribulado/Bank Holiday, uma visão bem intencionada mas paternalista das classes trabalhadoras, hoje parece lamentavelmente datado, assim como Sob a Luz das Estrelas/The Stars Look Down, simpática história das dificuldades sofridas por uma comunidade mineira irlandesa; mais vibrante foi Gestapo/Night Train to Munich, um thriller de espionagem de guerra, claramente direcionado por seus roteiristas, Frank Launder e Sidney Gilliat, a repetir o sucesso anterior que haviam obtido com A Dama Oculta/The Lady Vanishes de Hitchcock. Foi somente depois da guerra, porém, durante a qual Reed trabalhou em filmes de propaganda como Têmpera de Aço/The Way Ahead e o documentário Verdadeira Glória/The True Glory, que o diretor finalmente encontrou um canal adequado para sua ansiosa mescla de melodrama melancólico e amargo realismo.

O primeiro filme de seu período mais fértil foi Condenado/Odd Man Out>1, um sombrio e atmosférico thriller no qual um terrorista ferido do IRA se esconde em uma ameaçadora Dublin, povoada por personagens vibrantes mas estereotipados; incomumente duro para sua época, o filme somente enfraquece em seu final, tão previsível quanto sentimental. Igualmente bem interpretado e agraciado com um tom mais consistente foi O Ídolo Caído/The Fallen Idol>2, primeira de suas três colaboração com Graham Greene. Umas sutil narrativa da amizade do pequeno filho de um embaixador com um mordomo, cujo amor por uma jovem leva-o a pensar em matar sua esposa, o filme evoca de forma efetiva as manipulações do mundo adulto como observadas através dos olhos de uma criança inocente e trilha um caminho cuidadoso entre um humor irônico e um mais afetuoso pathos. Foi uma segunda adaptação de Greene, no entanto, que se tornaria o filme mais amado de Reed: O Terceiro Homem/The Third Man>3 foi um cínico thriller sobre o mercado negro de penicilina ambientado em uma Viena grandemente devastada do pós-guerra, beneficiando-se enormemente da presença de Orson Welles como o traficante da droga Harry Lime, que inventou ele próprio os mais engenhosos e sinistros diálogos, contrastando as façanhas artísticas de uma Itália renascentista devastada pela guerra com uma Suíça neutra e pacífica, terra natal dos relógios cuco. De fato, mesmo com seu pequeno papel, Welles ofusca o filme inteiro, com Reed cedendo a bombásticos enquadramentos inclinados, reminiscentes da própria obra inicial de Welles, embora ficando a dever em termos tanto de substância quanto de poder emocional.

Reed então se tornou eminentemente respeitável; em 1952, após uma morna mas habilmente interpretada versão de O Pária das Ilhas/Outcast of the Islands de Conrad, foi condecorado como Sir. A despeito, no entanto, dos orçamentos crescentemente generosos (muitos dos quais financiados por Hollywood) sua carreira entrou em declínio artístico: O Outro Homem/The Man Between retrabalhou, sem grande imaginação, temas de O Terceiro Homem; A Rua da Esperança/A Kid for Two Farthings foi uma extravagância sentimental ambientada no East End londrino; Trapézio/Trapeze, Agonia e Êxtase/The Agony and the Ecstasy e Oliver! (versão musical de Oliver Twist) foram caros e vazios. Somente uma última adaptação de Greene, O Nosso Homem em Havana/Our Man in Havana, destacou-se por uma genuína engenhosidade; e, ainda aqui, a frequente e desnecessária dependência de Reed de enquadramentos inclinados tornam-o irritante de ser assistido. Por fim, após os nada memoráveis Fúria Audaciosa/The Last Warrior e De Olha na Esposa/Follow Me, ele aposentou-se.

Na maior parte do que realizou, Reed aparenta ser  um diretor raso, satisfeito em contar com interpretações fortes e um senso de detalhe que sugere um interesse somente superficial na atmosfera. Mesmo sua melhor obra tem sido algo sobrevalorizada, seu embelezamento elaborado de gêneros acadêmicos e controversos; somente O Ídolo Caído apresenta convicção emocional.

Cronologia
Mesmo que provavelmente influenciado pelos filmes britânicos de Hitchcock, Reed se encontra mais próximo de ser alinhado com o igualmente notável artesão Lean. Pode-se dizer que figuras como Parker e Scott, conhecidos por seus visuais simples, são seus equivalentes britânicos modernos

Destaques
1. Condenado, Reino Unido, 1947 c/James Mason, Kathleen Ryan, Robert Newton

2. O Ídolo Caído, Reino Unido, 1948 c/Ralph Richardson, Michèle Morgan, Bobby Henrey

3. O Terceiro Homem, Reino Unido, 1949 c/Joseph Cotten, Alida Valli, Trevor Howard, Orson Welles

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 234-6.

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