Filme do Dia: Filho Único (1936), Yasujirô Ozu

Filho Único - 1936 | Filmow



Filho Único (Hitori Musuko, Japão, 1936). Direção: Yasujirô Ozu. Rot. Adaptado: Tadao Ikada & Masao Arata, a partir do conto de Ozu. Fotografia: Shojiro Sugimoto. Música: Senji Itô. Dir. de arte: Tatsuo Hamada. Com: Chôko lida, Shin’Ichi Imori, Masao Hayama, Yoshiko Tsubouchi, Mitsuko Yoshikawa, Chishû Riû, Tomoko Naniwa, Bakudankozo.
O-Tsune (lida) é uma viúva que luta com dificuldade para conseguir enviar o filho Ryosuke (Hayama) ao ginásio e posteriormente para Tóquio. Quando ele já é um jovem adulto, O-Tsune vai visita-lo em Tóquio e o descobre casado com Sugiko (Tsubouchi) e com um filho recém-nascido, sendo professor de uma escola primária e vivendo com dificuldade. Com dificuldade, dados os seus parcos ganhos, de manter a estadia da mãe em Tóquio, Ryosuke desabafa com a mãe que havia se arrependido de ter ido para Tóquio, que preferia ter ficado com ela na província. A noite, ao encontrar sua mãe acordada, Ryosuke tem uma conversa tensa com ela, que o acusa de acomodação. Sugiko vende um quimono para que Ryosuke leve a mãe para um passeio. Esse combina que toda a família deverá participar do passeio, inclusive o bebê. Um garoto da vizinhança, no entanto, é ferido por um cavalo e Ryosuke entrega o dinheiro que seria para o passeio para a mãe do garoto. O-Tsune se sente orgulhosa do filho e parte deixando um dinheiro para o neto. Ryosuke decide que voltará a estudar e que seu filho merece um futuro mais tranquilo que o seu.
Nesse que é o primeiro filme sonoro do realizador – produzido no mesmo ano que Chaplin também abraçará definitivamente o cinema sonoro com seu Tempos Modernos – muitas das características que serão associadas a sua produção posterior, e mais conhecida, já se encontram presentes. A preocupação com temas familiares, o uso da câmera fixa, a presença de planos recorrentes que representam uma espécie de breve “suspensão” na narrativa, ao mesmo tempo imprimindo-lhe um ritmo peculiar são alguns dentre eles. A ocidentalização do Japão, sendo o próprio Ozu um entusiasta espectador e leitor de obras norte-americanas se faz presente no pôster da atriz na casa da família de Ryosuke. Ozu tece comentários ao próprio processo de produção de seu filme no momento em que o filho leva a mãe para assistir um filme sonoro – curiosamente alemão e não norte-americano – e ele explica para ela que se trata de um filme com sincronização magnética, num comentário que reflete mais o próprio realizador do que o universo de seu personagem, tão destoante a fala surge em meio a todos os outros diálogos do filme. A presença de generosos trechos de Leise Flehen Meine Lieder (1933), musical biográfico, vem ressaltar ainda mais o estilo do realizador,  dado os seus movimentos de câmera extremamente rebuscados e seu teor fantasista que entram em choque com o realismo dramático e visualmente seco do filme de Ozu. Aliás, numa das várias sutis ironias do filme, a mãe menos se empolga do que cochila durante a projeção. Noutra ironia, o mais longo “plano-suspensão da narrativa”, logo após o momento mais tenso do filme, a conversa entre mãe e filho de madrugada, observada emocionadamente por sua esposa, com as duas mulheres chorando, não deixa de apresentar uma ponta de humor, ao observar o sono impassível do garoto, seguido justamente pela parede onde se encontra a gravura de um personagem de cabeça para baixo que fora doado justamente com a intenção de zelar pelo sono da criança. Por mais que o final do filme acene para um movimento contrário à acomodação fatalista que marcara a caracterização de Ryosuke, é a legenda que abre o filme, comentando sobre o quanto o vínculo entre pais e filhos é o maior motivo de seus dramas que dá a tônica do filme. Assim, mesmo a mãe afirmando que se sentia orgulhosa do filho, sua última imagem é menos de conforto do que de preocupação. E, para além da diegese, pode-se imaginar uma relação não menos traumática entre Ryosuke e seu próprio filho, talvez único como ele próprio. O singelo tema musical, algo também comum a sua produção posterior, reforça o tom agridoce. Shôchiku Eiga. 87 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar