Filme do Dia: Maioria Absoluta (1964), Leon Hirszman




Maioria Absoluta (Brasil, 1964). Direção e Rot. Original: Leon Hirszman. Fotografia: Luís Carlos Saldanha. Música: Radamés Gnatalli.  Montagem: Nélson Pereira dos Santos.

Esse primoroso curta-metragem de Hirszman discute o problema do analfabetismo e, no sentido mais amplo, da falta de valorização social dos trabalhadores menos qualificados. Iniciando com uma narração off (de Ferreira Gullar) que por vezes soa quase tão redutora quanto seu avesso ideológico, produzido contemporaneamente, os filmes de Jean Manzon, o filme faz uso desse habitual recurso até certo momento, quando decide, numa surpreendente reviravolta, dar voz aos próprios analfabetos. A partir desse momento, muitos despossuídos, em sua maioria agricultores, queixam-se das difíceis condições de sobrevivência, seja fazendo referência somente a sua própria experiência de vida seja argumentando em termos mais amplos e propondo soluções. O filme, portanto, é renovador tanto em termos tecnológicos, sendo um dos primeiros a fazer uso do som direto no Brasil, quanto – em boa parte, aliás,  graças a essa inovação tecnológica –  em termos formais, não só dando voz  a alguns daqueles que fazem parte da realidade que aborda, como o próprio narrador se distanciando por vezes da tediosa seriedade pretensamente equiparável ao grau de confiabilidade do narrado (como no caso dos filmes de Manzon). Assim, intervém diretamente na construção do filme elaborando, por exemplo, a pergunta final, onde após ressaltar o tanto que tais trabalhadores nos – subentende-se o público espectador de classe média – proporcionam, indaga o que nós proporcionamos a eles. A referência subliminar à classe média, no entanto, perde um pouco de seu efeito, porque é realizada sobre imagens do Congresso Nacional, como se esse “nós” fossem os políticos e não a classe média como um todo. 16 minutos.

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