Filme do Dia: Lola (1961), Jacques Demy

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Lola (França/Itália, 1961). Direção e Rot. Original: Jacques Demy. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Michel Legran. Montagem: Anne-Marie Cotret & Monique Teisseire. Dir. de arte e Figurinos: Bernard Evein. Com: Anouk Aimée, Mark Michel, Jacques Harden, Alan Scott, Elina Labourdette, Annie Duperoux, Catherine Lutz, Corinne Marchand.
          Em Nantes, Roland Cassard (Michel) é um jovem sem ilusões que tem sua vida transformada ao reconhecer um velho amor de infância, Lola (Aimée), dançarina que vive um caso de amor com o marinheiro americano Frankie (Scott), apenas por que ele lhe lembra o grande amor de sua vida, Michel (Harden), que partiu há sete anos. Roland desperta a paixão na dona de casa solitária, Madame Desnoyers (Labourdette), que tem uma filha adolescente, Cécile, que se apaixona pela primeira vez na vida pelo marinheiro Frankie. Lola afirma para Cassard que não o ama e esse, que já se encontrava quase disposto a desistir de viajar para a África do Sul em uma perigosa missão secreta, resolve mudar outra vez de planos. Frankie parte, deixando saudade em Cécile e quando Lola se prepara para partir com o filho Yvon (Géerard Delaroche) Michel retorna ao seu encontro.

           A soberba fotografia em p&b em tela panorâmica do mestre Coutard, de tirar o fôlego com a sua poética luz estourada e o talento já presente de Demy para retratar, através de aparentes dramas amorosos cotidianos banais, a expressão dos sentimentos de perda e reencontro da  identidade pessoal derivadas das próprias perdas e reencontros nos relacionamentos afetivos, já demonstram em sua estréia no cinema, muitos dos elementos que se tornariam presentes em suas mais notáveis obras. O talento incomum do cineasta utiliza-se tanto de locações reais como da música (aqui temas de Beethoven e Bach como em O Segredo Íntimo de Lola mais que as canções originais de Legrand, onipresentes em Os Guarda-Chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas) como poderosos canais de expressão para suas agridoces fábulas em que consegue mesclar com raro equilíbrio realismo e fantasia.  Também já se torna presente o seu destaque para a efemeridade do amor, refletido seja no passado, presente ou no futuro, através dos personagens de diferentes idades que orbitam em torno da relação Lola-Michel. Sua dívida para com o próprio cinema, presente tanto nas referências aos clássicos Lola Montés, de Ophüls, a quem o filme é dedicado e O Anjo Azul de Sternberg, como na decisão do protagonista de mudar sua vida após assistir um filme americano, nunca se torna uma mera demonstração de conhecimento da história do cinema, sendo retrabalhada criativamente pelo cineasta, que muito influenciaria, por sua vez, realizadores posteriores como Fassbinder, que realizou o seu próprio Lola ou a comparável ciranda de amores imperfeitos que é Rosas Selvagens, de Techiné. O personagem de Lola, evocado em vários filmes posteriores do cineasta, voltaria a ser vivenciado pela mesma Aimée em O Segredo Íntimo de Lola, em que a personagem teima em ter várias confluências com a protagonista desse primeiro filme, inclusive realizando seu sonho de viver nos Estados Unidos. EIA/Films Rome-Paris. 90 minutos.

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