Filme do Dia: O Segredo das Jóias (1950), John Huston

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O Segredo das Jóias (The Asphalt Jungle, EUA, 1950). Direção: John Huston. Rot. Adaptado: Ben Maddow &  John Huston, baseado no romance de W.R. Burnett. Fotografia: Harold Rosson. Música: Miklós Rózsa. Montagem: George Boemler. Dir. de arte: Randall Duell & Cedric Gibbons. Cenografia: Jack D. Moore. Com: Sterling Hayden, Louis Calhern, Jean Hagen, James Whitmore, Sam Jaffe, John McIntire, Marc Lawrence, Anthony Caruso, Teresa Celli, Marilyn Monroe, Dorothy Tree, Brad Dexter, John Maxwell.
               Dix Handley (Hayden), um amante de corrida de cavalos,  vê a chance de sair de uma vida de pequenos furtos com a proposta milionária de assalto, que tem como mentor o recentemente liberto Doutor Riedenschneider (Jaffe). Riedenschneider, no entanto, precisa de alguém que o banque e, através do contato do intermediário Cobb (Lawrence), fica sabendo da existência do milionário Alonzo D. Emmerich (Calhern). O plano de roubar as jóias no valor aproximado de meio milhão de doláres torna-se bem sucedido, porém tanto Dix quanto Louis Ciavelli (Caruso), um membro do grupo que é também exemplar chefe de família, saem feridos. Gus Minissi (Whitmore), contato indispensável para a realização da operação, procura consolar sua esposa, Maria (Celli), que revolta-se contra ele. Emmerich é vítima de um de seus cobradores, Bob Branon (Dexter), que sabe de que ele se encontra falido e de seu envolvimento na operação. Planeja com Brannon, ficar com as jóias roubadas, e partir para o estrangeiro. Quando o doutor aparece, juntamente com Dix, na residência de Emmerich, esse afirma que é melhor que as jóias fiquem nas mãos de um cidadão acima de qualquer suspeita como ele do que nas de um marginal conhecido e recentemente saído da prisão como o doutor. Porém o doutor recusa o acordo e Brannon procura roubar as jóias apelando para a violência e sendo morto por Dix. Dix e o doutor se refugiam na casa da namorada do primeiro, Doll Conovan (Hagen). O currupto comissário de polícia, Hardy (McIntire), que inclusive já havia flagrado a presença do doutor na espelunca de Cobb, não cede ao tradicional suborno e faz com que esse denuncie os amigos. Quando a polícia chega na residência dos Ciavelli, já encontra Louis no caixão. Investigando sobre o envolvimento de Emmerich na morte de Brannon, interrompem um dos poucos contatos que este mantém com a esposa inválida May (Tree). O álibi de Emmerich é sua jovem amante, Angela (Monroe), com quem diz ter passado a noite. Pressionada pela polícia, posteriormente, Angela não resiste e conta que não estivera com Emmerich na noite fatídica. Esse não suportando a situação, esboça uma carta de despedida à esposa e suicida-se. Mesmo sabendo que seu retrato se encontra em todos os jornais, o doutor resolve pegar um táxi para Cleveland. No meio do caminho, enquanto se diverte assistindo a dança de uma jovem, na companhia de seus amigos, é preso. Mesmo com a saúde cada vez mais comprometida, Dix pretende retornar a fazenda que fora de sua família, e Doll não permite que ele vá sozinho. No meio da viagem desmaia e Doll o leva a casa do médico do vilarejo, Dr. Swanson (Maxwell). Esse telefona à polícia, enquanto Dix reúne as últimas forças que possui para dirigir até a fazenda e lá morrer entre os cavalos.

Clássico do cinema noir, o filme de Huston persegue a mesma lógica de dois de seus filmes anteriores, Relíquia Macabra (1942) e O Tesouro de Sierra Madre (1948), onde a ganância humana  sem limites leva a destruição de todos os personagens envolvidos. Embora, para efeito de consumo imediato, a dupla Dix/Doll seja a encarnação de herói e mocinha, tanto a habitual misoginia, típica nos filmes do gênero, como a personagem do doutor, acabam por serem muito mais relevantes para a narrativa do filme. Huston evidencia sua simpatia pelo personagem a todo momento, sendo sua origem alemã (embora confesse ao motorista de táxi, que há anos não fala na língua materna) a explicação para o seu caráter extremamente metódico que se reflete no próprio ritmo do filme, descrevendo o assalto e a maior parte dos outros momentos com profunda frieza e anti-sentimentalismo. Ao longo de todo o filme, por exemplo, inexiste qualquer trilha sonora que “pontue” os momentos de suspense, sendo uma exceção a fuga final do casal (que aliás se encontra entre as mais belas do filme, com panorâmicas em alta velocidade mescladas a uma dinâmica montagem). A tradicional contraposição entre a cidade como o lugar do pecado e da perda de caráter  ao campo como o local idílico, de uma inocência perdida que pode ser recuperada, é evidente. Em grande parte o sucesso do filme se deve a perfeita adequação do elenco de apoio: Calhern inesquecível no papel de Emmerich; Monroe mais destacada que em outra participação no mesmo ano, em A Malvada, de Mankiewicz; Jaffe vivendo com brilhantismo o seu personagem, notoriamente obcecado por sexo (a cena no fast food, em que observa a dança da garota, antológica e possivelmente motivo de inspiração para o Lolita de Kubrick); Whitmore vivenciando outro dos bons momentos do filme, quando é chamado de “aleijado imundo”, pela mulher do assaltante moribundo. Recebeu o National Film Registry em 2008. MGM. 112 minutos.

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