Filme do Dia: O Jovem Törless (1966), Volker Schlöndorff


 O Jovem Törless - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 1


O Jovem Törless (Der Junge Törless, Al. Ocidental/França, 1966). Direção: Volker Schlöndorff & Herbert Asmodi baseado no romance de Robert Musil. Fotografia: Franz Rath. Música: Hans Werner Henze. Montagem: Claus von Boro. Cenografia: Maleen Pacha. Com: Matthieu Carrière, Marian Seidowski, Bernd Tischer, Fred Dietz, Lotte Ledl, Jean Leaunay, Barbara Steele, Herbert Asmodi, Hanna Axmann-Rezzori.
No Império Austro-Húngaro, o jovem Törless (Carrière) se despede da mãe (Axmann-Rezzori) e passa a vivenciar um verdadeiro rito de passagem para o universo masculino, em um internato no qual um dos rapazes, Anselm von Basini (Seidowski) se torna o bode expiatório para toda sorte de sevícias e torturas. Törless, ao mesmo tempo que se sente tocado pelas humilhações inflingidas a Basini, procura se distanciar do mesmo, como que buscando ocultar traços de identidade com alguém que é considerado fraco, efeminado e doente. O auge da tensão ocorre quando Basini é torturado em um ginásio de esportes com a presença de virtualmente todos os alunos. Törless foge do internato. Voltando após alguns dias se torna uma peça-chave no inquérito escolar sobre o caso. A argúcia com que expõe os fatos impressiona a comissão que acredita ser necessário transferi-lo para uma instituição de maior prestígio.

Schlöndorff encontra traços na obra de Musil de uma forte metáfora para o autoritarismo alemão de outro período, o nazista (abordado explícitamente por ele em O Tambor), na argumentação racional que é construída para justificar as práticas de tortura. Ainda que em nenhum momento exista qualquer referência ao fato de Basini ser judeu e o protagonista guarder todas as suas impressões mais pessoais somente para seu diário. O distanciamento emocional que procura se auto-impor se transfere igualmente para o plano formal do filme, numa obra de estréia e talvez a melhor da carreira do cineasta, grandemente austera e que parece observar todos os fatos de uma distância razoável. Uma das ironias é que a chave para a saída desse mundo marcado por um violento e corporativo imaginário masculino se dá justamente às custas do caso Basini, sobre quem Törless resolvera silenciar ao longo de todo o processo. Trata-se de um dos primeiros longa-metragens a chamar atenção para o Novo Cinema Alemão e a discutir, ainda que indiretamente, temas vinculados ao ideário fascista alemão no pós-guerra, enquanto elemento que vá além da mera representação no sentido do espetáculo reencenado tal como Julgamento em Nuremberg (1962), aproximando-se mais, nesse sentido, de  Brutalidade em Pedra (1961), curta dirigido por Alexander Klüge. Prêmio FIPRESCI em Cannes.  Franz Seitz Filmproduktion/NEF para Nora.  87 minutos.   

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