Filme do Dia: A Canção da Estrada (1955), Satyajit Ray


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A Canção da Estrada (Pather Panchali, Índia, 1955). Direção: Satyajit Ray. Rot. Adaptado: Satyajit Ray, baseado no romance de Bibhutibhushan Bandyopadhyay. Fotografia: Subrata Mitra. Música: Ravi Shankar. Montagem: Dulal Dutta. Dir. de arte: Bansi Chandragupta & Banshi Chandra Gupta. Com: Karuna Bannerjee, Kanu Bannerjee, Subir Bannerjee, Uma Das Gupta, Chunibala Devi, Runki Bannerjee, Reba Devi, Aparna Devi.
Apu (Subir Bannerjee) nasce em uma pobre família indiana. O pai, Harihar (Kanu Bannerjee) com pretensões de ser um escritor, passa longas temporadas distante, para tentar sustentar a família. Após ter vivido na cidade de Benares, Harihar volta as raízes rurais, indo morar onde seu pai e avô eram respeitados. A mãe, Sarbojaya (Karuna Bannerjee) além de viver uma árdua rotina em casa, ainda enfrenta os desgostos que lhe provocam a filha Durga (Runki Bannerjee), que rouba frutas das vizinhanças e vive às turras com uma velha tia. Alguns anos depois, Durga (Gupta) é acusada de roubar um colar da filha da vizinha. Durga leva Apu para conhecer o trem. Os dias do festival são uma festa para as crianças, mas logo a desgraça se instala com a temporada das chuvas. Escorraçada da casa de Sarbojaya e de um outro sobrinho, a velha tia é encontrada morta em um canavial, por Durga e Apu. Com o marido quatro meses distante e sem dar notícias, Sarbojaya sofre com a falta de dinheiro e uma pneumonia contraída por Durga, que a leva a morte. Ao retornar, feliz com o que conquistara, Harihar depara-se com o mudo desespero da mulher e compreende tudo. Enquanto se preparam para mudar-se, Apu descobre por acaso o colar que fora motivo de discórdia e o joga no lago. Aconselhado pelos sábios do povoado a não abandoná-lo, Harihar expõe sua desilusão com a experiência no campo e parte em uma carroça com o filho e a mulher.

Esse tocante tributo às dificuldades básicas de sobrevivência de uma família na Índia do início do século (embora a dimensão temporal praticamente evapore-se em meio ao tradicionalismo que tem seu mundo limitado a um espaço geográfico que só consegue visualizar algo de moderno – uma locomotiva – em seus limites), possui uma visão quase documental na descrição etnográfica que realiza dos costumes. Seu realismo poético, porém, supera a mera curiosidade pelo exótico e nos apresenta um retrato profundo de anseios, alegrias e misérias universais, portanto indo até, de certa forma, além do apresentado em documentários como Nanook que, mesmo realizando um retrato semelhante, ainda se apoia grandemente no apelo ao exótico. Pungente no retrato da miséria que apresenta de uma sociedade tradicional, sem cair no sentimentalismo, são cenas como a do abandono da velha tia e a descoberta do cadáver pelas crianças. Embora herdeiro do Neorrealismo italiano, o filme, por outro lado, apresenta cenas que se aproximam do abstracionismo, ao destacar aspectos da natureza – o balé dos mosquitos em um lago ao som da hipnótica trilha de Shankar. Curiosamente os atores que representam a família Ray, provavelmente não-profissionais, são membros de uma mesma família. Estréia de Ray em longa-metragem e o primeiro da trilogia de Apu, que inclui O Invencível (1956) e O Mundo de Apu (1959). Governo de Bengali Ocidental. 119 minutos.

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